Psicologia
PSICOLOGIA
Em primeiro lugar, gostarias de deixar claro que nossa abordagem será pautada na Psicologia Transpessoal [especialmente nos trabalhos de Ken Wilber, Stan Grof e dos autores brasileiros ligados à Unipaz]. Então, nosso artigo de hoje consistirá em apresentar esse mapa que será nosso guia básico em nossas reflexões. É interessante deixarmos claro que ao longo dos tempos muitos sábios e místicos nos falaram sobre um caminho semelhante ao que estas pesquisas recentes nos falam, porém há particularidades que apenas o conhecimento científico atual nos possibilita. Portanto sejamos coerentes: devemos reconhecer que a espiritualidade tem a contribuir com a ciência e que a ciência tem a contribuir com a espiritualidade. Iniciando dessa premissa de humildade de ambos os lados podemos construir um caminho através do Karate-Do, desde a ciência atual até as tradições orientais que estão ligadas à nossa arte marcial.
Como já vimos antes, há ligações das religiões orientais e das filosofias e outras linhas de sabedoria que influenciam o Karate de forma simbólica ou mesmo em muitas práticas. Chamaremos estas religiões, filosofias, etc pelo nome genérico de tradições. Em diversas tradições orientais, os mestres e sábios já haviam mapeado o que hoje é chamado de espectro da consciência pelos teóricos da psicologia. Nestes estudos, afirmam que os seres humanos evoluíram de uma consciência sensorial para uma mente emocional e depois para a mente racional, sendo que alguns sábios se aventuraram pelos níveis mais sutis da consciência desenvolvendo a mente intuitiva e, em raríssimos casos, chegando ao não-dual, à ligação final com todo o Universo, atingindo o Vazio, o Tao, o Atman, etc. Sabemos que estes níveis existem pois foram experimentados por pessoas como Buda, Cristo, etc. e hoje são postulados pela física quântica como corpos sutis além do corpo físico. O que lembramos é que existem práticas que já nos ajudam a desenvolver nossa consciência sobre esses corpos: os chineses desenvolveram o trabalho com o Chi [Chi Kung] que influencia amplamente as artes marciais e é um conjunto de técnicas que mobiliza a energia vital, a energia das nossas emoções. Várias práticas meditativas agem sobre o corpo mental ou sobre diferentes níveis do nosso corpo supra-mental, o corpo sutil além da mente. Além das provas científicas amplamente divulgadas por físicos e outros estudiosos da Consciência, existem os incontáveis exercícios deixados pelos sábios que nos ajudam a atingir cada estágio de consciência que estivermos dispostos a conhecer, desde que estejamos dispostos ao treinamento árduo, à prática diligente e ao desapego de certos hábitos e padrões que nossa vida moderna egoísta e narcisista nos impõe. Essa é a beleza dos nossos tempo: ciência e tradições nos apontam um caminho onde devemos repensar os valores baseados no materialismo e adotar uma vida mais leve, pautada numa espiritualidade saudável.
Deve haver portanto uma terminologia oriental, que talvez não seja tão desconhecida assim de nós karateca, e que nos ajude a entender melhor o que é a consciência. Em primeiro lugar, vamos partir da idéia de que, além de nosso corpo físico, possuímos mais três corpos de experiência sutil: os corpos vital, mental e supramental. Nosso corpo físico nos dá as experiências mais grosseiras que o grande psicanalista suíço Carl Jung chamou de função das sensações da nossa consciência. Nosso corpo vital nos dá a experiência dos sentimentos. Da mesma forma, o corpo mental nos dá a experiência dos pensamentos e o corpo supramental [além da mente] nos dá a experiência das intuições. São as quatro funções da consciência da psicologia.
Além destes quatro corpos [os três primeiros formam nossa experiência do Ego, o eu condicionado e o corpo as intuições inicia nossa caminhada para o grande Vazio], há os estágios mais sutis da consciência, os níveis de êxtase/beatitude que nos levam até o não-dual. Assim percebemos uma estrutura onde há cinco estágios, ou cinco corpos de experiência, todos ligados pela nossa Consciência, nosso Eu Maior, nosso Self. Assim, percebemos que se apresenta a nós uma estrutura de cinco corpos, cinco grande estágios, cinco elementos, cinco cores, cinco níveis, etc.
A medicina chinesa e muitos aspectos da cultura oriental estão baseados no conceito dos cinco elementos. O budismo apresenta um mapa de cinco elementos como o caminho pela qual nossa consciência se desenvolve [os Gorintou, monumentos de pedra dos cinco elementos, estão espalhados por todo o Japão]. A teoria dos cinco elementos é comum a quase todas as culturas antigas. Nesse sentido vamos relembrar os elementos mais recorrentes nas duas tradições que mais influenciaram o Karate: as culturas do Japão e da China.
Os chineses falam de três energias que formam nosso corpo individual: jing [energia sexual], chi [energia vital/emocional], sheng [energia mental]. Estas são as representações dos níveis mais fundamentais do nosso ser: material, vital e mental. E Te [consciência da mente intuitiva/supramental] é a consciência que reflete o Tao [Brahman, o nível de beatitude] mas que não se iguala a este, que é anterior a ele. [energia vital] e
Os japoneses, da mesma forma, falam destes níveis como Tai [corpo], Ki [energia vital] e Shin [mente]. Não devemos esquecer também dos termos Rei [energia supramental/ energia do Inconsciente Coletivo] e Do [originalmente o equivalente ao Tao chinês, o nível de beatitude, o não-dual, o Vazio].
Portanto, lembramos que o Do, o Caminho, não é apenas praticar sempre, mas praticar para crescer, para evoluir, sempre. E esse caminho, é um caminho para o Vazio, para o não-dual, para a Totalidade. Nessa estrada passamos por Tai [corpo material, consciência das nossas sensações e cinco sentidos], passamos por Ki [corpo vital, consciência das nossas emoções e sentimentos], passamos pelo Shin [corpo mental, consciência dos diferentes níveis da nossa razão e pensamento], pelo Rei [corpo supramental, a experiência das intuições e dos arquétipos do Inconsciente Coletivo] e pelo Do [corpo de beatitude, nossa experiência de transcendência até a não-dualidade com o Universo].
Vamos tentar compreender quem somos e qual caminho desejamos e estamos dispostos a seguir partindo dessa lógica que a ciência nos aponta e que as tradições já conheciam em grande parte. Muitos de nossos conflitos atuais e práticas perderão o sentido, mas só se forem realmente inadequadas ao modo de vida mais harmonioso. Como dizem os filósofos, aquilo que for bom se mantém, é abraçado pelo novo estágio no qual nos aventurarmos.
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